Terça-feira, 28 de Março de 2006

...

Saberias quem eu sou?

Se me visses agora?

Meu olhar foi o último,

Que de perto te olhou…

 

Mas que luto é esse?

Que cobre de negro todo o meu coração?

Que pinta de negro

O sítio da minha perdição…

 

Mas que luto é este?

Que sinto no meu coração?

Não eras pessoa para amar,

Eras sim o único sítio do mundo…

Onde me sentia num lar…

 

Quando te vi a última vez,

Antes de te virar as costas….

Vi as tuas paredes velhas

(que ao sol pareciam douradas)

Sussurrar ao vento palavras doces…

Com se me quisesses dizer: -adeus.

 

Estes versos são dedicados a uma pequena casa, situada no meio da serra do Açor que ardeu num destes incêndios de 2005.

Essa casa era a minha caixa de segredos, o meu sítio preferido no mundo.

 

Edi Gama

 

Publicado por ML às 00:24
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O Mistério dos Uivos

Numa pacata aldeia, escondida entre as serras e os rios, vivia uma pequena população formada principalmente por idosos desamparados, pois todos os familiares haviam ido para a cidade à procura de emprego.

Um dia, o sossego e a calma abandonaram aquele sítio de harmonia e esplendor, pois durante as noites quentes de Verão começaram a ressoar uivos arrepiantes vindos da serra. Aquele ruído atemorizante seguiu-se por noites e noites, até que os habitantes receosos daquele som, decidiram comunicar às autoridades o que ali se sucedia. No percurso para a aldeia Horácio e Jeremias, os dois agentes destacados para aquele caso, comentavam entre si que este era estranhíssimo, pois não era conhecida a existência de lobos naquela zona.

Depois de chegarem à aldeia e de se aperceberem da gravidade da situação, os dois agentes fizeram várias buscas em redor da aldeia, mas não obtiveram resultado algum. Assim, decidiram ir por outro caminho.

Naquela noite, e a partir de uma ideia que um dos habitantes dera no início da operação, começaram a vigiar todos os passos dos habitantes daquela aldeia.

No fim das buscas, Horácio divulgou uma lista, na qual estavam presentes os nomes de todos os que não se encontravam em casa nessas noites de investigação e durante as quais continuavam-se a ouvir aqueles uivos arrepiantes. Agora que os agentes começavam a chegar a certas conclusões, bastava seguir os habitantes cujo nome fazia parte da lista, mas será que aqueles homens velhos e que pareciam tão assustados poderiam ser a fonte de todo aquele pânico.

Logo na primeira noite em que eles seguiam o "Ti Manel", perderam-se perante aquele mato esverdeado e imenso, e foram dar a uma pequena clareira onde o ruído do lobo era intenso e ensurdecedor. Ao se aproximarem encontraram uma pequena caixa, era de lá que saia todo aquele som, e na tampa castanha e brilhante estava um bilhete com o seguinte texto: "Descobriram o lobo, agora descubram o seu dono." Jeremias, intrigado com o conteúdo da missiva, pensou em desistir daquela missão, até que ouviu entre os arbustos gargalhadas eufóricas. Começou a correr em direcção ao riso, mas como os dois agentes desconheciam aquela zona perderam rapidamente o indivíduo, ficando apenas com um pequeno retalho da sua roupa. Agora bastava compará-lo com a roupa de todos os habitantes, e esperar que algum reconhecesse a amostra como sua ou de algum vizinho.

Depois daquela noite, em que a resolução do caso estivera tão perto, não podiam desistir. Então chamaram todos os habitantes ao centro da aldeia, estes foram prontamente mas sentia-se no ar um misto de curiosidade e indignação. Jeremias e Horácio questionaram a todos os habitantes o dono daquele retalho de roupa. Horas depois, farto daquele assunto, e já que todos os habitantes afirmavam que aquele pedaço de roupa lhe pertencia, o "Ti Jaquim" acusou-se, desvendando todo o mistério que nos últimos tempos assombrava a aldeia, e que lhe roubara todo o seu colorido, o seu bem-estar e a sua calma.

 

Débora António, Gonçalo Rodrigues, Inês Eira, João Cardoso

 

Publicado por ML às 00:23
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...

Situada a dois quilómetros da vila de S. Pedro, fica a casa da Malafaia, uma família que em tempos foi a mais poderosa da região, D. Afonso da Malafaia mandou construir uma sumptuosa casa, a casa da Malafaia, a casa possui uma varanda, que é sustentada por seis pilares de pedra, a casa é ladeada por duas torres, e o espaço que dá acesso à varanda possui sete portas, e, por cima do frontão da casa, existe um painel de azulejos com um ramo de girassóis, que era o cartão de visita da casa, era uma fachada tristonha, no meio de um jardim bem cuidado e com árvores gigantes.


No ano de 2005, Maria Costa da Malafaia morre com 92 anos de idade, e deixa esta casa aos seus três netos, Afonso da Malafaia, Maria da Malafaia, e Manuel da Malafaia, para que os três a conservassem.


-Isto é um absurdo – disse Afonso – mas porque é que a avó, dividiu tudo por nos três, menos aquela bendita casa!


- Concordo – disse Maria – eu acho que a avó não estava no seu juízo perfeito, uma casa, para três pessoas, e restante família! Espero que tenha quartos suficientes para nós todos!


- Sim – disse Manuel a rir – Já que nós e as nossas famílias moramos em Hotéis, não sei o que vocês vão fazer, mas enquanto não decidirmos qual o destino da casa, eu não estou disposto agastar o pouco que me resta em hotéis.


- Bom – disse Afonso – Vamos combinar e vamos passar uma semana no nosso “lar”.


 Todos riam, passados dois dias, eles já estavam prontos para partir. Foram os três no carro do Manuel, mas quando chegaram ao fundo da estrada, que era mesmo em frente do portão, os três ficaram de boca aberta, e Manuel foi mesmo conferir o mapa que a avó tinha feito antes de morrer, para ver se aquela era mesmo a casa da Malafaia, era enorme, ao contrário do que os três pensaram, Manuel avança devagar com o carro e para mesmo em frente do portão, Afonso sai com a chave do cadeado e abre o portão envolvido em trepadeiras secas, Manuel para o carro em frente do jardim inculto da casa e sobem as escadas da frontaria, esperaram no telheiro que a varanda fazia por cima da porta até Manuel abrir a porta, e quando entraram, aperceberam-se que a casa era ainda mais sumptuosa, estava recheada de tudo o que era valioso, desde castiçais de prata, a vitrinas com jóias, tectos forrados a madeiras exóticas, espelhos, sofás, esculturas, quadros, tapeçarias, coisas que os deixaram perplexos pela sua beleza, mas a casa estava toda empoeirada, as paredes estavam manchadas, mas não estava tão mal que não pudessem dormis lá uma vez.


- Amanhã, eu chamo umas empregadas para limpar a casa de uma ponta a outra – Disse Maria a tossir depois de ter passado a mão por uma cómoda do quarto.


- Concordo – disse Manuel, isto está muito lúgubre.  


Afonso estava a olhar para o quadro da sua avó, que estava na sala, e lembrou-se da última vez que esteve com ela:


-“Afonso, eu deixo te a ti e aos teus dois primos a única coisa que eu quero que não saia da nossa família.


- O quê avó?


- A casa, a casa onde eu fui criada desde pequenina, onde o teu pai nasceu e onde os teus tios nasceram, a Casa da Malafaia, tudo o resto vocês podem vender, abandonar, mas não aquela casa, , eu quero que me jures, por ti e pelos teus primos, que não vão vender a casa.


- Juro avó, juro pela minha alma.”


 E viu a imagem da avó a fechar os olhos, e deixar cair um envelope que Afonso não teve coragem de abrir.


- Afonso – chamou Maria – Olha que o jantar está pronto!


Já vou! – Disse Afonso afastando-se do quadro e dirigindo-se à sala de jantar onde estava uma grande mesa de madeira com dois imponentes candelabros de prata.


- O que é o Jantar? – Perguntou Manuel enquanto se sentava numa cadeira.


- Frango assado – disse Maria com o tabuleiro nas mãos.


- Não te queixes Manuel – disse Afonso – Melhor que nada.


Depois de jantar dirigiram-se para a sala de estar, era uma sala muito grande, onde se encontrava uma grande cadeira de baloiço e dois sofás perto da lareira, e ao fundo da sala, uma mesa pé de galo com quatro cadeiras e um grande piano de cauda e na parede havia um espelho, que, devido à idade estava manchado mas a imagem era muito nítida, eles ali ficaram até mais algumas horas, quando o antigo relógio da sala deu as onze da noite, eles recolheram-se para os seus quartos, mas Afonso não conseguia dormir, não lhe saía da cabeça a imagem da avó a fechar os olhos e a deixar cair o envelope, até que ouviu o relógio dar a meia noite, mas o que ele estranhou, foi o facto do relógio ter dado treze badaladas, Afonso levantou-se para ir à cozinha beber um copo de água, mas quando estava no corredor, começou a ouvir uma melodia de piano, ele dirigiu-se à sala mas esta estava vazia, com um aspecto quase abandonado devido ás paredes sujas e as cortinas rasgadas, Afonso não deixou de ouvir a música e olhou para o espelho velho da sala, mas quando se aproximou, viu que o espelho estava a reflectir a sala, não a sala escura e envelhecida que era hoje, mas sim uma sala cheia de luzes como seria antes do abandono, mas o que deixou Afonso verdadeiramente assustado foi o facto de ele não ver o seu reflexo, mas o reflexo de homens e mulheres que dançavam no meio da sala, e ele viu-se a dançar com um traje do século XIX, a dançar com Maria. Ele esfregou os olhos para ver se vão estava a ter visões, mas quando voltou a olhar para o espelho já não havia pares de dança e, o reflexo voltou a ser o da velha sala.


Afonso voltou para o quarto e adormeceu.


 No dia seguinte, quando acordou, vestiu-se e foi para a sala de estar, onde estava Manuel na cadeira de baloiço, vestindo um roupão vermelho.


- Onde foi a Maria – Perguntou Manuel enquanto se balouçava a imponente cadeira.


- Não sei – Respondeu Afonso – Ela não disse que tinha de chamar umas empregadas de limpeza.


- Ah! Já me lembro, aliás, para onde vais já vestido? Lembra-te que és casado e tens um filho! – Disse Manuel a rir.


- Eu sei, vou dar uma volta pela propriedade,


Volto ao meio-dia


Manuel ficou sozinho em casa, e ouviu vozes no jardim, e foi até à varanda para ver o que se passava e viu que o jardim estava cuidado e que um rapaz de vinte anos, que vestia uma casaca creme a correr atrás de uma rapariga, com um vestido branco, que fugia a rir, e, quando a agarrou, ele disse-lhe:


- Queres casar comigo?


E a rapariga respondeu:


- Sim


E o rapaz dá-lhe um beijo, Manuel ficou assustado ao ver que o rapaz que dá o beijo, era ele. E vai vendo os dois corpos abraçados desvanecerem-se no ar.


Manuel vai para dentro, ficando bastante abalado pelo que tinha visto no jardim.


Maria e as empregadas trabalharam durante todo o dia dando um novo brilho a cada objecto, a cada móvel, a cada canto, o que fez com que Afonso lembrar-se do que tinha visto no espelho.


Depois do jantar, passaram novamente um longo tempo na sala de jantar, quando foram dormir, Maria não conseguiu adormecer e quando o relógio da sala deu as duas da noite, Maria ouviu choros de bebé, levantou-se e foi ver de onde vinha o ruído, Maria abriu a porta do quarto de onde vinha o choro da criança e viu um bebé num berço, e uma mulher de costas para a porta, debruçada sobre o bebé.


- O que a senhora está aqui a fazer? – Perguntou Maria.


Mas a Mulher não respondeu.


- Saia já daqui ou eu chamo a policia! – Ordenou Maria.


A mulher vira-se e Maria vê que a mulher é ela própria, Maria tenta gritar mas o grito não sai. Enquanto isso a mulher continua a embalar a criança, até a mulher e a criança desaparecerem lentamente.


Maria corre para o quarto e começa a chorar, não de medo, mas por a mulher estar a embalar a criança, cantando a música que a sua avó cantava quando ela passava as férias com os primos na casa da avó.


No terceiro dia as coisas estavam calmas, os três acordaram quase ao mesmo tempo, tomaram o pequeno-almoço e foram os três no carro do Manuel dar uma volta às povoações mais próximas, porque Manuel e Afonso queriam comprar ferramentas para a manutenção da casa e do jardim, e quando chegaram foram logo cortar as ervas daninhas da escadaria do jardim e arrancaram as trepadeiras secas do portão.


Depois de tratarem do jardim, foram reparar uma porta para um quarto, e mudaram algumas tábuas do tecto da sala de jantar que estavam podres.


Depois foram jantar, e novamente passaram umas horas a conversar e a rir.


- Eu vou à cozinha buscar alguma coisa para comermos – Disse Maria.


- Eu ajudo-te – Disse Manuel Levantando-se da cadeira de baloiço.


Afonso ficou sozinho na sala e, passado um bocado, ouve passos, e viu que a Maria estava vestida com um fato cor-de-rosa típico do século XIX.


- Maria! – Disse Afonso – Porque estás assim vestida?


- Ah, Afonso, estás ai, nem te tinha visto.


- Claro que eu estou aqui! Onde é que eu estava quando saíste.


E ela avançou para Afonso, mas qual o espanto dele quando ela passou por ele como se ele nem existisse, foi quando ele de virou e viu-se a ele próprio, vestindo uma casaca azul escura e usando na mão esquerda uma bengala, ele ficou paralisado não conseguiu sequer piscar os olhos.


- Afonso – Disse Maria entrando pela sala – Vem ajudar-me com outro tabuleiro.


Mas ela vê o primo quieto como uma estaca no meio da sala.


O que se passa? – Disse Maria aproximando-se de Afonso.


- Olha para ali Disse Afonso sem mexer os olhos.


Maria olhou para o centro da sala e deixou cair o tabuleiro no chão.


- Que barulho foi esse? – Perguntou Manuel enquanto entrava pela sala, sem se aperceber do que se passava.


Depois de se separarem do abraço o homem disse:


- O nosso filho Carlos vem cá para conhecermos a nossa neta.


- Que bom – Disse a mulher – vou mandar preparar o jantar.


E ouve-se a campainha tocar e aparece uma empregada que abre a porta e aparece um homem tal e qual o Manuel com a mesma mulher que ele tinha visto pedir em casamento no jardim e com um berço.


-Carlos! – Disse o homem quando chegou o seu filho – Que bom que vieste.


-Pai – Disse o homem que tinha acabado de chegar – Esta é a minha mulher, Maria da Assunção, e esta é a minha filha, Maria Costa da Malafaia.


Agora é que os três primos perceberam a história.


O Homem que se chamava Afonso e a sua mulher foram quem mandou construir a casa, e eram os seus trisavós, Carlos e Maria da Assunção eram ao seus bisavós e o bebé era a sua avó que lhes deixara a casa.


Depois de perceberem a história, já não tinham medo e perceberam porque a avó fez os netos jurar que nunca venderiam a casa.


Depois disto, D.Afonso mandou chamar o fotógrafo para tirar uma fotografia de família e com o brilho do flash as imagens desapareceram.


Afonso foi a correr para o seu escritório e procurou o envelope que a avó lhe deu, quando ele encontrou abriu e viu que lá estava a fotografia que eles tinham tirado naquela noite. E uma carta, que tinha escrito:


      


 Meus netos, esta casa, que eu vos deixo, é a casa da nossa família, a casa onde os vossos pais nasceram, esta não é uma casa igual às outras.    


Esta casa, que está cheia de vida, das muitas vidas que por lá passaram, e lá decidiram os seus destinos, é por isso que eu não quero que vocês se separem desta casa, porque a nossa família está muito ligada a esta casa, e se ela deixa de estar ligada aos verdadeiros donos, então todas as recordações, das pessoas que por aqui passaram desaparecerão, e se eu vos deixei esta casa a vocês, para que a voltem a encher de festas e de risos .


 


Depois de Afonso, Manuel, e Maria lerem a carta, olharam para a fotografia que estava no envelope, a fotografia que D.Afonso e a família tiraram naquela noite.


-Eu vou cumprir o que prometi à avó –Disse Manuel –Eu não vou vender a minha parte da casa, aliás, se vocês concordarem, eu venho viver para cá.


- Eu também –disse Maria –nós  passamos a vida em hotéis, sem nunca termos um lar acho uma boa ideia, também vens?


- Sim –Disse Afonso com a carta na mão –Foi por isso que a avó nos deixou a casa, para que nós a cuidássemos, e que nela vivêssemos.


 Assim, os três primos, com as suas próprias famílias foram viver para o grande casarão, onde os primos começaram a fazer festas e, mais tarde ,adaptaram a quinta para festas e turismo.


E assim se cumpriu o desejo de Maria Costa da Malafaia, ver os netos juntos, e a sua casa conservada, e cheia de Vida. 


 


Edi Gama

Publicado por ML às 00:10
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Imagem criada a partir de uma pintura de Kandinsky.

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